quarta-feira, 28 de março de 2012

O ROCHEDO



Dai-me, Senhor, a perseverança das ondas do mar, que fazem de cada recuo um ponto de partida para um novo avanço” 
(Gabriela Mistral).



Batem as ondas
no majestoso ROCHEDO
às vezes furiosas, às vezes tranqüilas,
sempre, sempre insistentes.
Não recusa o rochedo
o beijo quente e espumoso das ondas,
o férvido abraço das ondas
acalentadas pelo sol,
embaladas pelo vento.
É acolhedor o rochedo.
Não rejeita tampouco o rochedo
a prepotência veemente
a corrida barulhenta e raivosa,
a agressão confusa e violenta das ondas.
Fica imóvel o rochedo.
Penso na ROCHA,
no vaivém diferente de nossa existência,
na consistência da Rocha,
na inconsistência das ondas,
na volta das ondas ao mar, volta pacífica e calma.
Penso nas ondas, na vida,
no mar, no Rochedo que salva,
na luta, na paz.
É fiel o Rochedo
que promove o encontro tranqüilo
das ondas do mar!
Frei Pierino Orlandini

Simples mulher





Humilde e pobre é meu canto
para glorificar-te;
pobres minhas palavras
para louvar-te e definir-te,
mulher,
misteriosa e bem-aventurada
realidade da vida!
Rico é o silêncio
para deixar insondável e intacto
o inefável mistério que tu és,
e aureolar-te da glória
que Deus quis para ti
ao fazer-te da VIDA presente,
sacrário e nascente!

Tu és o presente de Deus,
a face brilhante do amor.
Por ti, bondade-mulher,
por ti, ternura-mulher,
por ti, força-mulher,
por ti, vida-mulher,
por ti, virgem-mulher,
por ti, mãe-mulher,
por ti, SIMPLES MULHER,
o homem é homem,
a humanidade existe,
a ETERNIDADE se encarna no tempo,
pois um Deus em ti se faz homem.
Com tua beleza de virgem,
mulher,
com tua beleza de mãe,
mulher,
com tua beleza,
simples mulher,
tu bates com toda a tua força
no coração do homem
e o abres ao amor.

Eu não sei dizer
o que tu és perfeitamente,
mulher.
Sei que se existo,
existo porque tu existes
como instrumento escolhido por Deus.
E isso me basta
para dizer-te meu eterno “OBRIGADO”
e sempre agradecer
o Senhor que te fez.


Frei Pierino Orlandini

VOAR




Ó BELEZA Infinita,
sempre clara e sempre viva,
sem limites, nem circunscrita,
sempre antiga e sempre nova,
sempre outra!
Ultrapasso os espaços
ao sopro do Vento,
voando
nas asas do Espírito,
transpondo limites.
Esta Imensa Beleza,
cativante Beleza sem fim,cria em mim asas:
Invisíveis, misteriosas asas...
que quebram barreiras,
rasgam os medos,
sem calcular precipícios,
num vôo livre e audacioso e impossível.
Mas nada é impossível!...-
E, assim, a Eternidade faz-se presente no tempo,
no espaço tão angusto, tão breve da história
do ser tão limitado!
“Olhos ao Alto e voe ! E, do Alto, perscrute!”
- eu sinto, eu escuto -.
Embaixo,
além e fora de si,
os homens circulam, caminham, labutam...
em busca do Outro.
E o Outro, absolutamente Outro,
Majestade Infinita, o Altíssimo,
“Deus-Conosco”, feito carne, -quem diria?-
vive nos outros: pequenos, carentes,
famintos,sedentos, abandonados, desfigurados,
deixados à margem, deixados de lado, jogados...
e nos outros se esconde.
Assim, simplesmente, misteriosamente,
como no Sacramento,
Cristo vivo neles se torna presente.
Neles – ó difícil Beleza escondida e presente de sempre! -
está o precipício que é preciso transpor.
Só é possível esse vôo,
vôo livre, voando,
carregados pelas asas do Amor.


“Existir hoje é deixar-se guiar pela Beleza, mesmo quando o guiará na orla do precipício e, embora ela tenha asas e você não e ela ultrapassará o precipício ,siga-a, porque onde não existe Beleza, nada existe” (Kahlil Gibran)

sexta-feira, 9 de março de 2012

Sede santos porque eu sou Santo”(Lev 1 “9,2)



 Todos os santos, que passaram antes de nós pela vida, a partir de Maria, formam uma comunhão, uma unidade: são o corpo glorificado de Cristo, a Igreja dos bem-aventurados. Mas, embora de maneira diferente, eles estão em  comunhão também conosco. Não os une mais a nós a fé e a esperança, e, sim, a caridade que não passa nunca. A caridade entendida como amor ao único Pai deles e nosso, ao único Redentor e ao único Espírito; e a caridade que os faz solidários conosco e nossos intercessores.
Nós também, como eles, possuímos impresso em nossa fronte o sinal de nosso Deus; somos também nós destinados a fazer parte daquele misterioso número de cento e quarenta e quatro  mil assinalados (Ap 7, 3-4).
A diferença maior entre nós e os Santos é esta: nós estamos no tempo e temos tempo. Uma coisa que eles não possuem mais.Penso que se eles pudessem desejar algo ou invejar-nos algo, nos invejariam o tempo. O tempo para amar mais, para purificar-se mais, para se tornarem mais semelhantes ao Cordeiro sem mancha. Nós temos tempo (não sabemos quanto!).Depende de nós decidir o que queremos fazer dele: deixá-lo passar ou utilizá-lo como o maior dos dons.
Caminhemos na santidade, meus irmãos e minhas irmãs, até que Deus nos conceda tempo. E, para isso, todo tempo é tempo.
Procurei nos escritos da B. Elisabeth da Trindade algumas orientações para a nossa caminhada de peregrinos rumo à Pátria definitiva. Vejam que preciosidades encontrei! Vejam que indicações concretas e claras! Poderiam servir-nos como um pequeno projeto de vida, sob a orientação de nossa querida irmã.
                                                                 

“Desde a eternidade Deus nos escolheu em Cristo para sermos imaculados, santos diante dele no amor” (Ef 1,4).
“O segredo desta santidade, desta pureza virginal, consiste em morar no amor, isto é, em Deus”.  “Deus é AMOR” (1Jo 4,16).
 “Que o Pai, segundo as riquezas de sua glória, vos fortaleça em poder pelo seu Espírito, de modo que Cristo habite pela fé em vossos corações e que sejais arraigados e fundados no amor. Assim tereis condições para compreender com todos os santos qual é a largura e comprimento e a altura e a profundidade e conhecer o amor de Cristo que excede a todo o conhecimento, para que sejais plenificados com toda a plenitude de Deus” (Ef 3,16-19).
Permanecei em mim” (Jô 17, 24). Jesus nos pede: permanecei em mim, não por alguns instantes, por algumas horas passageiras, mas permanecei de modo permanente, habitual. Permanecei em mim, orai em mim, adorai em mim, amai em mim, sofrei em mim, trabalhai, agi em mim. Permanecei em mim, e então vos podeis apresentar a todos e a tudo; penetrai sempre nesta profundeza.
  Enquanto nossa vontade tem caprichos estranhos à união com Deus, fantasias de sim e de não, nós permanecemos no estado de infância e não caminhamos a passo de gigante no amor... estamos ainda em busca de nós mesmos...mas quando Deus terá purificado em nós todo amor  vicioso, toda dor viciosa, todo temor vicioso, o amor será perfeito e o anel de ouro de nossa aliança será mais largo do que o céu e a terra.
Sede santos porque eu sou santo” (Lev 11, 45). É o Senhor que fala assim. Qualquer que seja o nosso modo de vida ou o hábito que nos cobre, cada um de nós deve ser o santo de Deus. Quem é, pois, o mais santo? É aquele que mais ama, aquele que mais olha para Deus e que atende mais plenamente às exigências do seu olhar. Satisfaremos as exigências do olhar de Deus, mantendo-nos simples e amorosamente voltados para ele, a fim de que ele possa espelhar sua própria imagem, como o sol se espelha através de um puro cristal.
“Para mim, viver é Cristo” (Fl 1, 21). Se eu cair a cada instante, sem perder a confiança na fé, ele me levantará. Sei que me perdoará. Que tudo apagará com cuidadoso zelo; mais do que isto: despojar-me-á, livrar-me-á de todas as minhas misérias, de todo obstáculo à ação divina; arrastará após si todas as minhas potências, fazendo-as suas cativas, triunfando delas em si mesmo. Então serei transformada toda nele e poderei dizer: “Já não sou eu que vivo. Meu mestre vive me mim”, e serei santa, imaculada, irrepreensível aos olhos do Pai”.

“Andai em Jesus Cristo, enraizados nele, edificados nele, firmes na fé, e crescendo nele cada vez mais em ação de graças”(Gl 2,20).
- Andar em Jesus Cristo: é sair de si, perder-se de vista, deixar-se, para entrar mais profundamente nele, a cada minuto que passa. Tão profundamente que nele sejamos enraizados...Quando a alma conseguiu fixar-se nele tão profundamente, quando suas raízes estão assim nele mergulhadas, a seiva divina circula nela abundantemente, e tudo o que é vida imperfeita, banal, natural, é destruída...A alma assim despojada de si mesma e revestida de Jesus Cristo nada mais teme das influências de fora nem das dificuldades de dentro, porque tudo isto, longe de lhe ser de obstáculo, só faz enraíza-la ainda mais profundamente no amor do Mestre.
- Edificados nele: Jesus Cristo é o rochedo onde a alma é elevada acima de si própria, dos sentidos, da natureza, das consolações e das dores, acima de tudo o que não é exclusivamente Ele.
- Firmes na fé: esta fé que não permite jamais à alma adormecer, e conserva-a bem atenta, sob o olhar do Mestre, totalmente recolhida sob sua palavra criadora.
- Crescer em ação de graças: é onde tudo deve terminar. “Pai, dou-vos graças!”. Esse é o cântico de Jeus e deve ser nosso cântico também.  O cântico novo, capaz de encantar e cativar a Deus é o da alma despojada, libertada de si mesma, na qual ele pode refletir tudo o que ele é, e fazer tudo o que deseja. Esta alma é como uma lira entre seus dedos e todos os seus dons são outras tantas cordas que vibram, dia e noite, para cantar o louvor de sua glória” .

Sintetizando: Fomos escolhidos – para sermos santos –morando no Amor – permanecendo em Cristo – fundados e enraizados nele – amando – confiando no poder de Cristo que nos liberta de todas as misérias – saindo de si mesmos – apoiados em
Cristo como num rochedo – firmes e vigilantes na fé – dando graças a Deus pelo amor e cantando o cântico novo – fazendo tudo o que ELE quer.
Que tal? Vamos experimentar?

Um forte abraço para todos os meus irmãos e todas as minhas irmãs da OCDS.


Frei Pierino Orlandini

quarta-feira, 7 de março de 2012

Silenciosa



Frei Pierino Orlandini, OCD
Silenciosa esperaste,
velante,
o nascimento de Deus em Belém.
Silenciosa aguardaste,
dolente,
sua morte na cruz.
Teu silêncio adorante
esperou o FILHO DO HOMEM
nascido de ti.
Teu silêncio orante
esperou o HOMEM-DEUS
crucificado por nós
e ressuscitado para nós.
Ensina-nos, ó Virgem Maria,
teu silêncio atuante.
Derrama sobre nós, ó Virgem,
teu silêncio amante.

Sacrários




Adoro-Te, Senhor,
devotamente
nos sacrários dourados, cintilantes
que nossas mãos fizeram para Ti,
onde ficas - Hóstia Sagrada!
- pacientemente, silenciosamente,
misteriosamente à espera de mim.

Contemplo-te, Senhor,
também, em eloqüente, adorante silêncio
nos seres humanos - outros sacrários!
- que tuas mãos divinas fizeram para Ti.
Adoro-Te neles,
mesmo sujos e humilhados,
empobrecidos e famintos,
onde ficas misteriosamente e realmente
- Carne viva, Hóstia viva! -
rejeitado por muitos e também esquecido.

Adoro-Te, Senhor,
na sarjeta,
nas hóstias caídas à beira da estrada,
nunca perdidas;
na carne viva da humanidade esquecida,
por Ti para sempre assumida
e em Ti, por amor, redimida.

Jesus se manifesta e se esconde em todas as partes. Nós o encontramos nos sacrários dos templos e nos homens-sacrários. Ali, Ele nos espera para ser nossa luz e nosso sustento; aqui, nos homens-sacrários, nos irmãos que passam e vivem ao nosso lado, também nos espera; a única resposta válida e digna que lhe podemos dar é o Amor, pois Ele, por amor, se fez Hóstia e Hóstia viva.

Frei Pierino Orlandini, O.C.D.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Se te amasse com todas as forças...




Ó Senhor! Se te amasse com todas as forças, com a força deste amor amaria a meu próximo como a mim mesmo. .Pelo contrário, sou muito insensível aos seus males, ao passo que sou muito sensível aos meus; sou tão frio em compadecer-me dele, tão lento em socorrê-lo, tão fraco em consolá-lo: numa palavra, tão indiferente ao seu bem e ao seu mal....Mas, ó Deus, se não pudesse amar, Tu não me dirias: “Ama!”; se não tivesse a força de amar, Tu não me dirias: Ama com todas as tuas forças” (Mc 12, 30, 31). Mas, ó meu Deus, se eu posso e tenho força, porque não o faço agora diante de Ti, onde eu o quero, onde procuro querê-lo sinceramente? Talvez eu queira e não queira ao mesmo tempo? Talvez, amar é algo diferente do que ter boa vontade? Ó meu Deus! Explica-me meu mal e a necessidade que tenho de Ti, para servir-me de minhas forças, para querer o que quero, ou para começar a querer....Ó Senhor! Atrai-me , começa e faze que eu siga; começa, e acharei o coração e as forças para tudo empregar em amar-te. (Jacques Bénigne Bossuet).
“ Somente o encontro com Deus permite não ver no outro sempre e somente o outro, masreconhecer nele a imagem divina, acabando assim por descobrir verdadeiramente o outro e tornar maduro um amor que se concretiza no cuidado do outro e para o outro” (Bento XVI) 

Provocados a levantar vôo
No apogeu da vida mística, após um longo caminho da harmonização interior e exterior, quando “só o amor é já o exercício” da alma e está feita a união “no mesmo amor” com o Amado, o ser humano anela por conhecer os Mistérios da Encarnação. No desejo de ver enfim concluída a união com Aquele que é a “luz dos seus olhos”, como uma pessoa que chega de longe, logo que chega, procura ver e falar com quem tem grande amizade, dirige-lhe esta súplica veemente:
“Peço-te, pois, que seja eu a tal ponto transformado em tua formosura, que, assemelhando-me a ela, possa ver-me contigo em tua própria formosura, tendo em mim mesma esta formosura que é tua.
E assim, olhando um para o outro, cada um veja no outro sua formosura, pois ambos têm a mesma formosura tua, estando eu já absorvida em tua formosura. Deste modo, eu te verei, a ti, em tua formosura, e tu hás de ver a mim em tua formosura; eu me verei em ti na tuaformosura, e tu verás em mim na tua formosura; aparecerá em mim somente a tuaformosura, e tu aparecerás também em tua própria formosura; então, minha formosura será a tua, e a tua, minha. E chegarei a ser tu mesmo, em tua formosura, e tu chegarás a ser eu, em tua mesma formosura, porque só a tua formosura será a minha, e assim nos veremos um ao outro em tua formosura”. (S. João da cruz).
Postado por Pierino 

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

COMO UM RIO



 


 Senhor,

 hoje te invoco assim:

Quero mergulhar em Ti, sem medo.

Liberta-me dos meus medos.

Quero abrir minhas portas ao Infinito.

E aguçar meu olhar.

E renovar meu compromisso livre de amar.

Liberta-me dos meus condicionamentos,

que me prendem e aprisionam.

Que eu, enfim, seja livre, Senhor.

Que minha vida seja deveras “perdida" em Ti

e por causa do teu Reino.

 Tu és o grande Oceano, onde todos os rios se perdem.

Como um rio que entra no mar,

que deixe eu de ser "eu", para que Tu em mim

sejas mais "Tu"

e que a todos

todo o meu ser fale de Ti.

Assim eu serei mais eu  em Ti e Tu serás mais Tu em mim.

Seremos nós. Circulação do Amor.



 Frei Pierino Orlandini

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Quaresma...Pensando em vida. Algumas considerações...



“Lembra-te que és pó, e ao pó hás de voltar”.
“Tu amas, Senhor, todas as coisas que existem e nada desprezas do que criaste; se odiasses alguma coisa, não a terias criado... Tu conservas todas as coisas, porque todas são tuas, Senhor, amante da vida” (Sab 11,24-26).
“Ó morte, onde está a tua vitória?”.
Em tempo de quaresma, que começa com o sugestivo (para alguns) e mágico (para outros) rito das cinzas, pensemos na vida, pois o fim do caminho da quaresma (símbolo da caminhada de nossa vida humana) é a celebração da vitória da Vida sobre a morte em Cristo Jesus.
“Tu és pó!”. O homem, então, é pó? Que tipo de homem seria esse?
Com certeza, é o homem que se afastou de Deus, rejeitou o diálogo, foi expulso de sua casa, repeliu o dinamismo do amor, para enveredar numa trajetória de dissolução e de morte. Ou o homem que se opõe a Deus, vira as costas ao seu próprio ser, rejeita sua identidade de filho e condena a si mesmo ao nada. É o homem que se afasta da vontade do Criador.
Felizmente, nesse itinerário de afastamento, existe a possibilidade de uma volta. É possível mudar de direção e voltar à origem. É possível não caminhar para a morte, mas voltar à Fonte. E a FONTE, “ que mana e corre, mesmo de noite”, é Deus, AMANTE DA VIDA.
Eis a conversão! “Lembra-te que és pó, e como pó voltarás....a Deus”. Basta querer. Desde já. É preciso somente tornar-se terra e entregar-se novamente ao Construtor, ao Criador. E aceitar que Ele nos faça de novo. O Artista Divino é capaz de refazer-nos conforme seu projeto original e quer que sejamos sua obra-prima.
Se por acaso erramos, perdemos o caminho da vida ou o sentido do Reino e envolvemos outros em nossa culpa, aceitando nossa realidade, isto é, que somos pó, Ele inclinar-se-á sobre nós para soprar seu sopro de vida.
Assim nosso “nada” será transformado no “tudo” pela plenitude divina. E se ainda nos rebelamos, não aceitando seu projeto e quebrando nossa identidade divina, mesmo em pedaços, gritando de dor e com saudade da casa paterna, Ele saberá reconhecer-nos e, com mão delicada, recolherá os pedaços e nos recriará. Pois, nenhum artista – tanto menos o Artista Divino – dá por perdida qualquer uma de suas obras.
Todo ser humano é fruto do amor transbordante de Deus. Se prestarmos atenção, este amor de Deus se manifesta em tudo. Uma menina que procurava ansiosamente por Deus, depois de fazer a descoberta de sua presença na vida, em qualquer tipo de vida, escreveu atrás de uma fotografia de um prado florido: “Esta é uma fotografia tirada antes de descobrir que Deus nos sorri, nos ama e fala do seu amor para nos nas flores, nas árvores, nas estrelas, em cada gota de vida”.Nunca poderemos entender verdadeiramente quanto Deus seja Deus-para-nós.
O segredo da felicidade é uma vida com Deus. Longe Dele, ser feliz é praticamente inconcebível. “Nossa vida nasce, vive, amadurece e chega ao fim em relação existencial e moral com Deus. Aqui está toda a esperança da vida, aqui a filosofia da verdade, aqui a teologia do nosso destino... O homem não pode ser entendido sem esta referência essencial com Deus, que incumbe sobre nós, que nos conhece, observa-nos, penetra-nos, conserva-nos continuamente. Ele é o Pai de nossa vida”(Paulo VI).
Deus Pai nos ama, sustenta-nos, acaricia-nos, torna-nos felizes, seja que estejamos num leito de dor, seja que estejamos num prado de flores.
Pensando em cinzas, em quaresma, é bom pensar na vida: a vida que surge e ressurge do pó, das cinzas, da conversão, do sopro do Espírito. E nada: nem cinzas, nem lama, nem poeira, nem pecado algum será empecilho para reconhecermos em nós e nos outros o resplendor do rosto de um filho de Deus.
Pensemos não nas cinzas do túmulo, da morte, mas num punhado de terra na mão do Artífice Divino, no momento solene da Criação; um punhado de terra pronto a receber o “sopro” e tornar-se, assim, “vivente”.
Pensemos no Senhor que “trata com indulgência todas as coisas, porque todas são suas, do Senhor, amante da vida” (Sab 11, 26). Conversão, afinal, é abraçar a vida!


Frei Pierino Orlandini

SIMPLES ORAÇÃO VOCAL





Simples oração vocal
“ Oh, oração de cada dia, pobre, comum, despretensiosa e solitária, como o dia mesmo!
Raras vezes saem de ti altos pensamentos e afetos elevados. Não és sublime sinfonia em majestosas catedrais, mas um canto misericordioso, que sai do coração necessitado, executado com a maior vontade, mas sempre algo simples e monótono.
No entanto tu és a oração da fidelidade e da confiante certeza; a oração do serviço desinteressado e gratuito à Divina Majestade . Tu és a sagrada unção que dás luz e grandeza às horas pálidas e aos momentos perdidos. Humilde, tu não desejas experimentar, mas crer. O teu passo é muitas vezes cansado, porque caminhas. Pode parecer, algumas vezes, que és expressão, fruto somente dos lábios.
Mas....não é melhor que, pelo menos, os lábios bendigam Deus, do que esteja mudo todo homem? E... não há mais esperança que encontre um eco no coração o que se manifesta pelos lábios, do que todo homem permanecer mudo?
Em nossos tempos, pobres de oração, o que chamamos geralmente “oração vocal”é, na realidade, a maior parte das vezes, a oração de um coração pobre, mas fiel, que laboriosamente, honradamente, por meio de sua debilidade, cansaço e aborrecimento, abre uma pequena fresta e assim, através dela, penetra um tênue raio de luz eterna, que cairá sobre nosso coração, sepultado, às vezes, na rotina do cotidiano”

(Karl Rahner, texto traduzido e modificado por Frei Pierino).


“ Não deixemos de rezar. Comportemo-nos como o semeador. Chegará o tempo justo para a colheita” (S. Agostinho)

“Que toda a palavra nasça da ação e da meditação. Sem ação ou tendências à ação, ela será apenas teoria que se juntará ao excesso de teorias, que está levando os jovens ao desespero. Se ela é apenas ação, sem meditação, acabará no ativismo sem fundamento, sem conteúdo, sem força. Prestes honra ao Verbo Eterno, servindo-te da palavra, de forma a recriar o mundo” (Helder Câmara).


Ave, Maria!



 

Ó Maria,
cheia de graça e de alegria,
sinal de esperança,
modelo de harmonia!
Ave, toda bela, ó Maria!
Escolhida, preferida, envolvida pelo Espírito de Amor,
acolheste, fiel,em teu seio o Salvador,
de todos Redentor.
Ave, Arca da Aliança, sinal de esperança, ó Maria!
E, assim, com teu “Sim”,
Virgem do SIM,
tornaste-te sacrário da Vida
e santuário do Amor.
Ave, mãe da Vida, ó Maria!
E saíste jubilosa,
agradecida,
pressurosa
levando a todos o teu Senhor.
Ave, servidora da humanidade,
Portadora do Amor, ó Maria!
E, com evangélica ternura,
o coração em festa,
exultante, cantaste uma canção de amor
engrandecendo,
enaltecendo o teu e nosso Senhor.
Ave, mãe da Alegria, ó Maria!
Grata, trasbordante de amor,
contigo levaste, ó Virgem e Mãe sem par,
“AQUELE QUE É”.
Ave, Virgem-Mãe oferente, ó Maria!
Por ti e contigo, “Aquele que é”, veio entre nós
e é Deus, Jesus Salvador.
Ave, Mãe do Redentor, ó Maria!
Ó Virgem da alegria,
do canto, do sorriso e da harmonia,
da oferta, da partilha e da acolhida,

ó Virgem do Carmelo,
da festa, do júbilo e da vida
faze que nós também saibamos acolher,
com gratidão,
Jesus Libertador e sua libertação!
Á tua proteção recorremos, ó Maria!
Que sigamos teus passos
e seguremos tua mão,
escutemos teu silêncio em profunda oração
e caminhemos cantando, anunciando,
vislumbrando o “MONTE”, nosso ponto de união.
Ave, Virgem da contemplação, ó Maria!
Que nós cumpramos, serenos, contigo, ó Maria,
com coração ardoroso,
com rosto radioso e olhar penetrante,
contemplante,
nosso “SIM” total,
ainda que doloroso.
Ave, Virgem-Mãe das dores, ó Maria!
Leva-nos sempre contigo, Maria.
Guia-nos, nas incertas coisas da vida,
com mão segura,
a cada instante, a cada dia.
Ó Mãe do Carmelo, ó Estrela Guia,
leva-nos ao teu Jesus, nossa alegria.
Que assim seja, ó nossa Mãe Maria!

Frei Pierino Orlandini, ocd

AS PEGADAS DO MESTRE





Chamado a ser discípulo
Aprenderei tudo seguindo o Mestre.
Eu, discípulo, não irei
à frente do Mestre.
Não inventarei novidades.
Simplesmente,
eu discípulo,
irei atrás do Mestre.
Seguirei seus passos.
Passo atrás de passo
porei meus pés na marcas dos seus pés.
Calcarei suas pegadas.
E se  alguém , de repente, enxergar somente  pegadas...
veja as pegadas de Cristo,
as pegadas do Mestre,
pegadas que são minhas também.
Ou veja as minhas pegadas nas dele,
fundidas, unidas, numa adesão total,
vital,
feita de fé-compromisso,
de  viva esperança
e de cruz , simplesmente de cruz,
de amor, sem acréscimos,
de amor simplesmente.
Serei seu seguidor,
Obediente ao convite: “Tu, segue-me!”.
Sem cálculos, sem matemática,
sem equações.
Só serei seu seguidor.
Ele, Cristo Mestre,  Caminho e Chegada e Fonte de amor;
eu, discípulo humilde,
somente seu seguidor.




Frei Pierino Orlandini

“Segue-me!”



Um olhar sedutor,
cativante...
Palavras simples e fortes,
transbordantes de amor,
envolventes:
“ Vem! Segue-me!”
Um  temeroso silêncio...
- Eu? Que queres de mim, Senhor? -
Uma decidida resposta...
- “Senhor, se tu me chamas,
eu quero te seguir!
Aqui estou!” -
Eu sei que, no fundo,
é tudo questão de amor...
Acolher teu dom,
oferecer-te meu dom...
oferecer-me como dom.
É uma relação de dons.
Uma promessa segura...
Uma missão consignada...
Uma aliança estipulada,
fiel,
transmitida
por um olhar fascinante,
carregado de amor....
-“ Eu estarei contigo! Vai!” -
Seguir radicalmente Jesus,
sem olhar para trás...Que desafio! Que risco!
Optar por Cristo de um jeito total, real, incondicional...
Que coragem!
Deus é o corajoso!
Um chamado, um convite...
E uma vida que aceita ser consagrada,
reserva  do Altíssimo,
missão no seio do povo.
Uma constante canção de alegre louvor...
mesmo na cruz.
Um  misterioso, perene poema de amor.
- Graças te dou, Senhor,
todos os dias,
por aquilo que sou,
com tudo o que sou -.




Frei Pierino Orlandini