Todos os santos, que passaram antes de nós pela vida,
a partir de Maria, formam uma comunhão, uma unidade: são o corpo glorificado de
Cristo, a Igreja dos bem-aventurados. Mas, embora de maneira diferente, eles
estão em comunhão também conosco. Não os
une mais a nós a fé e a esperança, e, sim, a caridade que não passa nunca. A
caridade entendida como amor ao único Pai deles e nosso, ao único Redentor e ao
único Espírito; e a caridade que os faz solidários conosco e nossos
intercessores.
Nós também, como
eles, possuímos impresso em nossa fronte o
sinal de nosso Deus; somos também nós destinados a fazer parte daquele
misterioso número de cento e quarenta e quatro mil assinalados (Ap 7, 3-4).
A diferença maior entre nós e os
Santos é esta: nós estamos no tempo e temos tempo. Uma coisa que eles não
possuem mais.Penso que se eles pudessem desejar algo ou invejar-nos algo, nos
invejariam o tempo. O tempo para amar mais, para purificar-se mais, para se tornarem
mais semelhantes ao Cordeiro sem mancha. Nós temos tempo (não sabemos quanto!).Depende
de nós decidir o que queremos fazer dele: deixá-lo passar ou utilizá-lo como o
maior dos dons.
Caminhemos na
santidade, meus irmãos e minhas irmãs, até que Deus nos conceda tempo. E, para
isso, todo tempo é tempo.
Procurei nos
escritos da B. Elisabeth da Trindade algumas orientações para a nossa caminhada
de peregrinos rumo à Pátria definitiva. Vejam que preciosidades encontrei! Vejam
que indicações concretas e claras! Poderiam servir-nos como um pequeno
projeto de vida, sob a orientação de nossa querida irmã.
“Desde a
eternidade Deus nos escolheu em Cristo
para sermos imaculados, santos diante dele no amor” (Ef 1,4).
“O segredo
desta santidade, desta pureza virginal, consiste em morar no amor, isto é, em Deus”. “Deus é
AMOR” (1Jo 4,16).
“Que o Pai, segundo as riquezas de sua glória,
vos fortaleça em poder pelo seu Espírito, de modo que Cristo habite pela fé em
vossos corações e que sejais arraigados
e fundados no amor. Assim tereis condições para compreender com todos os
santos qual é a largura e comprimento e a altura e a profundidade e conhecer o
amor de Cristo que excede a todo o conhecimento, para que sejais plenificados
com toda a plenitude de Deus” (Ef 3,16-19).
“Permanecei em mim” (Jô 17, 24). Jesus
nos pede: permanecei em mim, não por alguns instantes, por algumas horas
passageiras, mas permanecei de modo permanente, habitual. Permanecei em mim,
orai em mim, adorai em mim, amai em mim, sofrei em mim, trabalhai, agi em mim.
Permanecei em mim, e então vos podeis apresentar a todos e a tudo; penetrai
sempre nesta profundeza.
Enquanto nossa vontade tem caprichos estranhos à união com Deus,
fantasias de sim e de não, nós permanecemos no estado de infância e não
caminhamos a passo de gigante no amor... estamos ainda em busca de nós mesmos...mas
quando Deus terá purificado em nós todo amor vicioso, toda dor viciosa, todo temor vicioso,
o amor será perfeito e o anel de ouro de nossa aliança será mais largo do que o
céu e a terra.
“Sede santos porque eu sou santo” (Lev
11, 45). É o Senhor que fala assim. Qualquer que seja o nosso modo de vida ou o
hábito que nos cobre, cada um de nós deve ser o santo de Deus. Quem é, pois, o
mais santo? É aquele que mais ama, aquele que mais olha para Deus e que atende
mais plenamente às exigências do seu olhar. Satisfaremos as exigências do olhar
de Deus, mantendo-nos simples e amorosamente voltados para ele, a fim de que
ele possa espelhar sua própria imagem, como o sol se espelha através de um puro
cristal.
“Para mim, viver é Cristo” (Fl 1, 21).
Se eu cair a cada instante, sem perder a confiança na fé, ele me levantará. Sei
que me perdoará. Que tudo apagará com cuidadoso zelo; mais do que isto:
despojar-me-á, livrar-me-á de todas as minhas misérias, de todo obstáculo à
ação divina; arrastará após si todas as minhas potências, fazendo-as suas
cativas, triunfando delas em si mesmo. Então serei transformada toda nele e
poderei dizer: “Já não sou eu que vivo. Meu mestre vive me mim”, e serei santa,
imaculada, irrepreensível aos olhos do Pai”.
“Andai em Jesus Cristo, enraizados nele,
edificados nele, firmes na fé, e crescendo nele cada vez mais em ação de graças”(Gl
2,20).
- Andar em Jesus Cristo: é sair de si, perder-se de vista, deixar-se,
para entrar mais profundamente nele, a cada minuto que passa. Tão profundamente
que nele sejamos enraizados...Quando a alma conseguiu fixar-se nele tão
profundamente, quando suas raízes estão assim nele mergulhadas, a seiva divina
circula nela abundantemente, e tudo o que é vida imperfeita, banal, natural, é
destruída...A alma assim despojada de si mesma e revestida de Jesus Cristo nada
mais teme das influências de fora nem das dificuldades de dentro, porque tudo
isto, longe de lhe ser de obstáculo, só faz enraíza-la ainda mais profundamente
no amor do Mestre.
- Edificados nele: Jesus Cristo é o rochedo onde a alma é elevada
acima de si própria, dos sentidos, da natureza, das consolações e das dores,
acima de tudo o que não é exclusivamente Ele.
- Firmes na fé: esta fé que não permite jamais à alma adormecer, e
conserva-a bem atenta, sob o olhar do Mestre, totalmente recolhida sob sua
palavra criadora.
- Crescer em ação de graças: é onde tudo deve terminar. “Pai, dou-vos
graças!”. Esse é o cântico de Jeus e deve ser nosso cântico também. O
cântico novo, capaz de encantar e cativar a Deus é o da alma despojada,
libertada de si mesma, na qual ele pode refletir tudo o que ele é, e fazer tudo
o que deseja. Esta alma é como uma lira entre seus dedos e todos os seus dons
são outras tantas cordas que vibram, dia e noite, para cantar o louvor de sua
glória” .
Sintetizando: Fomos escolhidos – para sermos santos –morando no
Amor – permanecendo em Cristo – fundados e enraizados nele – amando – confiando
no poder de Cristo que nos liberta de todas as misérias – saindo de si mesmos –
apoiados em
Cristo como num rochedo – firmes
e vigilantes na fé – dando graças a Deus pelo amor e cantando o cântico novo –
fazendo tudo o que ELE quer.
Que tal? Vamos experimentar?
Um forte abraço para todos os
meus irmãos e todas as minhas irmãs da OCDS.
Frei Pierino Orlandini